segunda-feira, 7 de junho de 2010

"... a saudade do que queríamos no jornalismo"

Eu sou jornalista. Como diz minha amiga Cláudia Galvão, um ser bípede que é pago para se intrometer na vida dos outros. Cheio de opiniões e ideias, vivo a crise de dividi-las ou guardá-las para mim mesmo. E nada mais próximo disso do que justamente a internet. Criar um blog, mais um diante de tantas criações e desistências imediatas, parece terapêutico. No entanto, este se trata de uma inquietação pessoal em transmitir alguns pensamentos - profissionais inclusive -, mesmos que eu negue que ele continuarão comigo mesmo, diante de uma rede com tantas informações. Afinal, "quem lê tanta notícia?"
Para mim, a grande rede mantém um isolamento gigantesco justamente com o que ela tem de melhor: o acesso. Muita informação! Neste blog, minha vontade é contar tudo, mas a angústia me bate em poucos segundos: ser jornalista em Alagoas é muitas vezes calar. E quem poderá me dizer que não é assim em todo o mundo?
Recentemente, vi o documentário sobre a mudança gráfica e de conteúdo da Folha de São Paulo. A dica partiu do Twitter de Chicão, um colega de faculdade, hoje mais ligado à publicidade. Ele indicou para "a saudade do que queríamos quando iniciamos a faculdade de jornalismo". Ainda na sexta-feira passada, assisti ao filme "Incendiário" em que um jornalista usa de vários métodos para desvendar uma notícia (um alerta: embora seja um bom filme, o enredo não traz nada referente ao jornalismo, foi só um recorte).
Desde que entrei no jornalismo, e só o fiz neste Estado, creio que me senti assim uma vez: quando editei uma revista de educação. É engraçado, porque a revista era temática e cheia de restrições quanto à linha editorial, sem poder criticar o poder público nem a categoria dos professores, mas me deu um prazer danado escolher que reportagem fazer.
Vivi com um gosto amargo meus últimos sete anos, em que pude escrever. Sei que é absurdo, mas tenho um certo cansaço precoce quanto à profissão. Em uma postagem futura, vou falar como me sinto em Maceió. Eu cheguei à conclusão de que o "paraíso das águas" mais me parece um aquário. Se você crescer um pouco, o corpo fica limitado pelo espaço e suas barbatanas logo começam a atrofiar.
Esse clima provinciano interfere diretamente na minha profissão. Ainda estagiário senti o gosto da realidade do meu 'ofício tão importante para a sociedade'. Ao descobrir uma fraude num órgão público, fui dispensado sem ser ouvido. A alegação é que eu teria feito chantagem. Claro que não a fiz, mas fui aconselhado por colegas mais experientes a deixar o assunto de lado e seguir a vida, para não 'fechar portas'.
Não me sinto um grande jornalista. Penso que aceitei até tudo de forma muito fácil. Ando no ritmo do maceioense: a 30 Km/h - aquela velocidade de quem está de férias, na praia. Um espaço de tempo que confunde quem vai atravessar a pista: se deve correr ou esperar o carro passar. A corrida que só atrapalha.
Por isso, abri este blog. Para falar o que eu quiser quando der vontade. Mas não espere muito de mim, eu ainda vivo em Alagoas e preciso que não me fechem portas. Perfeitamente!

2 comentários:

  1. Compartilho boa parte das suas inquietações e frustrações. Lamento que esteja acontecendo com você assim com tão pouco tempo de profissão. Pelo menos temos a web para aliviar um pouco esse sentimento. O texto tá muito bom. Continue escrevendo.

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  2. O sentimento de jornalismo não posso dividir, mas posso falar que está muito bom. Adorei o início do blog e vou ficar esperando as próximas postagens. Continue sempre assim, um ótimo jornalista e uma pessoa maravilhosa.

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