quarta-feira, 27 de abril de 2011

A dureza de não aplaudir



No fim do colégio, já aprovado no vestibular de Jornalismo na Ufal, fui escolhido para ser uma dos oradores da turma. Éramos três. No meio do auditório, vi a direção do colégio chamar duas orientadoras pedagógicas à frente.

A primeira eu aplaudi, a segunda não. Não fez muita diferença já que 90% dos presentes aplaudiam, principalmente por existir uma imensa turma de meninos participando de uma 'muvuca', tudo era algazarra.

Eu acho que escolhi o jornalismo por ser um 'crítico', ou por ser 'cri-cri' como constava na minha ficha escolar, redigida pela orientadora a qual eu não aplaudi, óbvio. O fato é que eu sempre a achei equivocada em sua atuação, inclusive ao me cadastrar como 'cri-cri', quando eu questionava o próprio colégio.

Não aplaudi! Fiz de caso pensado: "não daria meu aplauso a alguém que não merece".
A própria origem do aplauso já me daria razão. O mais antigo conceito que se sabe sobre a batida de palmas da mão é o grego. Ao assistirem a uma apresentação, os gregos batiam palmas para que os deuses prestassem atenção aos atores, músicos, autores... pediam que abençoassem quem fazia bem à arte.

Nos séculos seguintes quem iria ao teatro, aplaudia a quem julgasse ter feito um bom espetáculo; aplaudia de pé a quem fez um trabalho magnífico; e jogava tomate ou vaiava quem não fez nada que preste.

No auditório do colégio, depois das duas orientadoras vieram duas colegas bastante aplaudidas, inclusive por mim. Eu, em seguida, único homem que falaria, não recebi os aplausos da turma dos meninos, o que garantiu um aplauso tão 'chocho' que pareceu uma vaia. As meninas aplaudiam timidamente.

Garanto que doeu ter sentido a mesma ação a qual havia praticado segundos antes.
Sabia que não se tratava de um protesto contra mim, e sim de uma molecagem. Mesmo não sendo o que se chama de popular, não era a tradicional vítima de bullying no colégio.

Na hora, o fato me fez questionar se era deselegância da minha parte não ter aplaudido, se era injusto ou cruel... ou ainda se eu devia aplaudir para ser aplaudido.

Definitivamente não. Eu não seria aplaudido de qualquer maneira. E quem disse que é necessário ser aplaudido em todos os momentos da vida? Acho que devemos estar preparados para as críticas, inclusive as que vêm por vaias ou falta de palmas.

Aliás, defendo que temos que aplaudir menos. Ainda batemos palmas para muita gente que não merece para sermos 'educados'. Pode até doer, mas palmas só devem prestigiar quem nos agradou. E isso não deve ser levado como algo horrível ou pesado como muitas vezes é tratado.

Uma vez Caetano Veloso foi vaiado numa apresentação e respondeu assim: "não quero os aplausos de vocês. Vocês não entenderam meu trabalho". É petulante, mas é um posicionamento. Fedro afirmava desprezar os aplausos dos ignorantes. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva declarou que era preciso gostar tanto dos aplausos como das vaias.

No auditório, eu não me intimidei: agradeci a quem eu achava que construiu minha vitória naquele momento dando nomes aos bois; e critiquei dando nomes aos bois também. Deixei muitos revoltados e perplexos com minhas ácidas palavras. Certamente, uma bastante magoada.

Como jornalista, eu sei que se eu tivesse batido palmas estaria me sentindo péssimo hoje. Vejo que aplaudimos ainda muitos trabalhos ruins, cada um com seu motivo. Porém ao fazermos isso mantemos e até iludimos pessoas que não contribuem nem pra arte nem pra sociedade.

Reforço o valor dos aplausos que servem como crítica (v. Heine) e também não nego que nenhum ato é tão privado que não procure aplausos (v.Updike), mas prefiro a dureza de não aplaudir.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Macaco está certo



Artigo de Ruy Castro - Folha de São Paulo de 22/04/2011


Nesta terça-feira, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu habeas corpus a 40 policias civis e militares acusados de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva, comércio ilegal de armas de fogo, extorsão qualificada, associação com a milícia e outras atividades não regulamentares. Eles agora responderão a essas acusações em liberdade. Pior para a Operação Guilhotina, desfechad em fevereiro pela Polícia Federal para sanear o aparelho.
No mesmo dia, uma juíza, também do Rio, negou o pedido de prisão preventiva do pedreiro Luiz Carlos Oliveira, 50 anos, que confessou ter degolado, com um caco de garrafa, a universitária Mariana Gonçalves dos Santos, 21, dentro de uma escola em Campo Grande, no dia 7 de março. Em suas sentenças, lavradas em legalês arcaico, os juízes alegaram não ser necessário manter em prisão cautelar tanto os 40 policiais quanto o degolador.
Por coincidência, ainda nesse dia - um dia cheio - , e sempre no Rio, o Tribunal de Justiça negou o habeas corpus que permitiria ao chimpazé Jimmy, 27 anos, se mudar do zoo de Niterói, onde viveu numa jaula, para o Santuário dos Primatas, em Sorocaba (SP), onde seria mais feliz. O argumento foi o de que, embora compartilhe 99,4% do DNA humano, Jimmy não é gente, donde inabilitado para para beneficiar-se de um habeas corpus.
Enquanto isto, o ex-médico Roger Abdelmassih, 67, condenado a 278 anos de prisão por estupro e atentado violento ao pudor contra 60 mulheres em sua clínica em São Paulo e, naturalmente foragido, anuncia de alguma parte que sua mulher, de 32 anos, está grávida e que ele será pai de gêmeos.
Um antigo programa de TV de Jô Soares, "O Planeta dos Homens", tinha um bordão: "O macaco tá certo". Vide Jimmy. Interrompeu sua evolução na hora H para conservar o 0,6% de características que o distinguem dos humanos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Aos melancólicos, uma tristeza não recomendada

"Você pagou com traição a quem sempre te deu a mão"... verso de um samba famoso de Jorge Aragão é sempre cantado quando há uma desilusão com alguém o qual você dedicou seu tempo, sua força, sua amizade...
Hoje estou um pouco triste. Digo pouco porque minha desilusão é com alguém que me desilude há muito tempo. Digo pouco porque tenho ao meu lado muita gente leal e companheira. Mas sempre dói uma desilusão. E nem sei se é desilusão, já que não havia mais ilusão. Talvez, decepção. Não... não! O que seria então?
Talvez 'negação'. Aquela melancolia que dá quando você não aceita que as coisas sejam como são. Aquela tristeza fina, duradoura, que machuca como o dedão do pé doído, que na minha infância chamávamos de 'dedo desmentido'. Era aquele machucado que passava e voltava várias vezes, não havia fratura, mas incomodava.
Pois estou assim. Meio mole. Não queria me sentir 'esmagado' pelas situações de uma pessoa que se diz incansavelmente que é amiga, mas que ferquentemente me engana. Hoje, mais uma vez, me prometi que vou me afastar. Não queria. Além de gostar dela, gosto do que os anos construiu com ela. Só que vou pro buraco se não pular do carro. As avarias ainda são pequenas.
Recentemente, já me senti triste com outra pessoa, também amiga. Embora presente em todos os momentos, ou quase todos, ela 'só faz o que quer'. Não é absurdo 'só fazer o que quer'. Porém, tenho problemas em dizer 'não', já diria um amigo. Eu penso que se todos só fizerem o que se quer, a vida vira uma merda.
Sei que o relato que faço neste 'post' é uma chatice. Ninguém merece ler. Mas o blog é meu, tem a intenção de ser um canal para eu escrever o que eu penso, o que é raro em minha profissão... e principalmente, eu me sinto impelido a 'fazer o que eu quero'. É raro eu ser assim tão invasivo.
Tenho um sonho: uma casa de praia com a mulher que eu amo, tomando uma cervejinha pela manhã, dormindo e acordando pra tomar um vinho pela noite. A mulher eu já encontrei, chama-se Lídia. A casa ainda é um sonho. Veja essa imagem não só como um sinal de que devo me isolar cada vez mais ao longo de minha vida, mas como forma de fugir de 'uma tristeza não recomendada', bem comum aos melancólicos como eu.