quarta-feira, 30 de junho de 2010
Os nossos governantes heróis
terça-feira, 29 de junho de 2010
Os homens criaram este Haiti aqui
Hoje, abro uma exceção. Um artigo de Arnaldo Jabor, publicado nesta terça-feira no O Globo, que vou comentar amanhã prometo. Vamos a ele:
Os homens criaram este Haiti aqui
Não adianta analisar mais p... nenhuma no Brasil de hoje. Tudo voltará ao início como cobra mordendo o próprio rabo, tudo continuará sob a anestesia mas sem cirurgia, como disse uma vez Mário Henrique Simonsen. Tudo era previsível neste súbito Haiti que brotou no Nordeste, variando do deserto para o 'tsunami' de lama, das 'vidas secas' para o afogamento, sempre atingindo os mesmos pobres-diabos sem voz, sem rosto, sem destino, que vagam nas cidades desgraçadas que o subfeudalismo dos barões nordestinos cultiva.
A análise tradicional não serve; só resta oferecer-me como testemunha inútil deste crime secular sem autores visíveis. O autor não é Deus, não é a natureza: os homens teceram esta desgraça de agora, não por seus atos malignos apenas, mas por uma distribuição de causalidades inexplicáveis que cria o crime sem sujeito - uma difusa culpa que acaba inocentando a todos.
No entanto, a verdade brasileira aparece nestas tragédias visíveis - soterramentos, alagamentos, bebês morrendo em berçários de hospitais assaltados. Por outro lado, a verdade sempre esteve ali, silenciosa, dissimulada nos miseráveis vilarejos de Alagoas e Pernambuco, na paz trágica do nada, na mansidão da ignorância, no silêncio da miséria seca, aquela paz vazia que tranquiliza ladrões e demagogos, a paz da ignorância de vassalos toscos e obedientes.
Mas, de repente, jorrou a verdade com as águas de represas e açudes arrebentados. Tudo que não queríamos ver bate em nossos olhos grudados na TV, vendo o Maradona de terninho ou o Dunga com sua cara espessa e dura. A verdade aponta os responsáveis pela tragédia, que certamente vão esconder que 57% das verbas para prevenção de catástrofes desse tipo foram gastos na Bahia, para favorecer o candidato do governo para governador. Também não vão explicar por que só 14% das verbas preventivas (R$ 71 milhões apenas) foram destinados aos estados de Alagoas e Pernambuco.
Agora, com Lula e sua clone correndo para aparecer no teatro de lama, para impedir perda de votos, o governo vai gastar mais de R$ 2 bilhões para consertar o que era evitável (ah... e que bons negócios se farão...).
A catástrofe estava encravada nas fazendas-fantasmas, nos municípios controlados por barões, na indústria da seca -- não só a seca do solo, mas a seca mental -- onde a estupidez e a miséria são cultivadas para criar bons serviçais para a burguesia boçal. A catástrofe estava se armando enquanto soavam as doces camaradagens corruptas em halls de hotel, os almoços gordurosos, as cervejadas de bermudão, as gargalhadas, as "carteiradas" autoritárias, os subornos e as chaves de galão. As catástrofes estavam se armando durante os jantares domingueiros, na humilhação das esposas de Botox, no respeito cretino dos filhos psicopatas, na obediência dos peões, dos capatazes analfabetos. A catástrofe se armava no sarapatel de ideias que vão desde um leninismo tardio até este revival de um sindicalismo getulista a que assistimos.
Os indícios desse desastre se veem na recente frase irada que Lula lançou: "Os impostos no Brasil têm de ser altos, sim, do contrário não temos Estado." Esqueceu-se de dizer que os impostos que recolhe são gastos para pagar folha de milhares de pelegos empregados, nos desvios de verbas públicas, esqueceu de dizer que a catástrofe se armava nos últimos sete anos quando gastaram R$ 8 bilhões em propaganda oficial, sem contar os gastos com empresas estatais.
A catástrofe também se armou aos poucos com a frente unida da Utopia, que permite que todos os erros sejam cobertos por um manto de "fins justificados" -- a frente unida dos três tipos de radicais: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os loucos e os burros. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram, todos atacando o "capitalismo do mal", quando justamente esse mal (que também existe) é a única bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra.
A catástrofe se arma para futuras tragédias, com a má utilização dos bilhões de dólares que entram em nossa economia, canalizados para países emergentes, pois estão sendo sugados pelo Estado inchado e inchando.
A realidade (se é que isso ainda existe no país) é que a tragédia fixa, silenciosa, invisível se transformou numa tragédia bruta e retumbante. Só isso aconteceu no Nordeste.
E para nós restam o horror e a pena, porque os fatos estão muito além da piedade. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.
Restam-nos a impotência diante do fato consumado e um sentimento nobre, mas que chega sempre depois da desgraça: a solidariedade.
O que é solidariedade? Como sentir a dor dos outros? Sou solidário aqui ou apenas faço o meu artigo semanal? Por que me comovo? Será que me comovo mesmo, será que me imagino ali na lama, procurando pedaços de comida no lixo, e aí me purifico com minha indignação impotente? Como posso saber o que sente um homem-gabiru, faminto, analfabeto, que só é procurado pelos poderosos sacanas para ser laranja em roubalheiras para a cumbuca das oligarquias?
Como posso saber da alma de um desgraçado limpando um pedaço de pão no lodo para dar para o filho bebê, com seu sofrimento mudo, enquanto os culpados dizem "que horror!" nos prédios de luxo nas praias da Pajuçara e Boa Viagem ou se escondem nos cabides de emprego de Brasília? Como se sentem os homens sofridos que vemos chorando na TV, sob o som de gritos da Copa do Mundo, uivos de vuvuzelas e patetas pulando de alegria patriótica? Os diques e os açudes que se romperam são diques rompidos da mentira política sistemática. Então, pode ser que a História se mova um pouco e que a consciência de nosso absurdo aumente. Mas isso... só por um tempo... Depois, novas catástrofes voltarão a se armar...
domingo, 27 de junho de 2010
Um personagem diletante
terça-feira, 22 de junho de 2010
É injusto, mas é de direito 2!
sábado, 19 de junho de 2010
O espaço de quem é contra
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Seria melhor "Estádio Didão"
terça-feira, 15 de junho de 2010
Ranzinza com a minha profissão
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Para evitar constrangimentos
domingo, 13 de junho de 2010
Nossos personagens
Madame Bovary é um romande escrito por Gustave Flaubert que resultou num escândalo ao ser publicado em 1857. Quando o livro foi lançado, houve na França um grande interesse pelo romance, pois levou seu autor a julgamento. Ele foi levado aos tribunais(onde utilizou a famosa frase "Emma Bovary c'est moi" (Emma Bovary sou eu) para se defender das acusações) acusado de ofensa à moral e à religião, num processo contra o autor e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, em que a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com alguns pequenos cortes.
Pra mim, o mais sensacional é pensar que Madame Bovary era realmente Flaubert. Assim como a infinidade de personagens que somos e que poderemos ser.Perfeitamente!
sábado, 12 de junho de 2010
O caçador de êider – trecho do livro “Viagem ao Centro da Terra”, de Julio Verne
Quando acordei, ouvi meu tio falando muito na sala ao lado.
Levantei-me imediatamente e apressei-me em ir ao seu encontro.
Falava em dinamarquês com um homem alto e vigorosamente esbelto.
O rapagão devia ter uma força incomum. Seus olhos pareceram-me inteligentes numa cabeça muito grande e um tanto ingênua. Eram de um azul sonhador. Seus longos cabelos, que passariam por ruivos na Inglaterra, caíam nos ombros atléticos. O indígena tinha movimentos flexíveis, mas mexia pouco os braços, como um homem que ignorasse ou desdenhasse a linguagem dos gestos. Tudo nele revelava um temperamento dos mais calmos, não-indolente, mas tranqüilo. Sentia-se que nada pedia a ninguém, que trabalhava para a sua comodidade e que, nesse mundo, sua filosofia não podia ser surpreendida ou perturbada.
Percebi as nuances daquele temperamento pela forma como o islandês ouvia a verborragia ardente de seu interlocutor. Estava de braços cruzados, imóvel, em meio às inúmeras gesticulações de meu tio; para negar sua cabeça virava da esquerda para a direita; para afirmar inclinava-se tão pouco que seus longos cabelos mal se mexiam. Uma economia de movimentos que beirava a avareza.
Se eu visse aquele homem, nunca adivinharia sua profissão de caçador; nunca devia amedrontar a caça, mas então, como a pegava?
Tudo se esclareceu quando o senhor Fridriksson me disse que o tranqüilo personagem não passava de um "caçador de êider", pássaro cuja penugem constitui a grande riqueza da ilha. De fato essa penugem chamava-se edredon, e não é preciso muito movimento para pegá-la.
Nos primeiros dias de verão, a fêmea do êider, espécie de pato bonito, vai construir seu ninho entre os rochedos dos fiordes, cuja costa é franjada. Construído o ninho, forra-o com plumas finas que arranca do ventre. Logo chega o caçador, ou melhor, o negociante, pega o ninho, e a fêmea faz tudo de novo. Isso continua até que sua penugem acabe.
Quando a fêmea está completamente depenada, cabe ao macho arrancar as suas penas. Como sua penugem é dura e grosseira, o caçador não se dá ao trabalho de roubar o leito da ninhada; o pássaro consegue assim concluir seu ninho. A fêmea põe os ovos, os passarinhos nascem, e no ano seguinte recomeça a coleta do edredon.
Ora, como o êider não escolhe para seu ninho as rochas escarpadas e sim as rochas fáceis e horizontais que vão se perder no mar, o caçador islandês conseguia exercer sua profissão sem grande agitação.
Não passava de um fazendeiro que não era obrigado a semear nem a ceifar, apenas a colher.
O personagem grave, fleumático e silencioso chamava-se Hans Bjelke; fora recomendado pelo senhor Fridriksson. Era nosso futuro guia. Suas maneiras contrastavam singularmente com as de meu tio.
Entenderam-se, entretanto, com facilidade. Nenhum dos dois se importava com o preço, o primeiro, pronto a aceitar o que lhe fosse oferecido, e o segundo, pronto a dar o que lhe pedissem.
Nunca uma barganha foi tão fácil.
Uma história que me pareceu fascinante, embora o personagem seja de tamanha crueldade e insensibilidade. Teria eu um pouco do caçador de êider? Acho que não. Sei que convivemos com alguns caçadores de êider, diariamente. Perfeitamente!
sexta-feira, 11 de junho de 2010
A busca pelo nome
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Era apenas um menino
Era um menino, ainda sem rosto
Sofria de um grave descolamento
de alma e corpo,
O amor de Anabella era espelho
Alento e desalento da sombra desconhecida
Pecado que nem mesmo ele podia vê-lo
Mas era só um menino, de imagem retorcida
Talvez menos que menino
Sobre as confusas linhas da vida
O ondear de seus sonhos fugindo
Para a valsa dos famintos
De amor, de atenção, o opaco reluzindo
Sabe-se que ele em vários dias brilhou
Girou, errou, repetiu
E depois a si mesmo apagou
O que se esperava dele, numa roda gigante
O vaguear de um louco
Mas há de se dizer que era apenas um menino grande
quarta-feira, 9 de junho de 2010
A culpa por Gabriela
terça-feira, 8 de junho de 2010
É injusto, mas é de direito
O governo federal acaba de proibir o nepotismo na administração direta e indireta, inclusive o cruzado – aquele em que um gestor nomeia um familiar de outro gestor. A pergunta óbvia é: já não era proibido?
O problema do nepotismo não está no fato de se empregar um parente. A competência técnica desse familiar pode ser superior a de qualquer outro que venha a ocupar um cargo público. A tentativa é de coibir uma prática de “cabide de empregos”, que normalmente resulta em baixa ou nenhuma produtividade, ou ainda de portas abertas para a corrupção.
Lembro da frase que ouvi poucos dias após chegar à TV Assembleia. Quem te indicou? Atirou a pergunta um amigo meu. Respondi que o diretor de comunicação, Joaldo Cavalcante. A réplica veio com a afirmativa de que todos chegaram ali por alguma indicação: característica muito comum em nosso Estado, em nosso país.
Mais uma vez, o problema não se encontra na indicação, mas na falta de mérito nessa indicação. Na semana passada, fui perguntado quem seria um bom cronista desportivo para dar uma entrevista ao programa Ponto de Vista, na mesma TV Assembleia. Minha indicação foi imediata para o jornalista Roberto Boroni, mesmo sabendo que ele não trabalhava mais com esporte há uns dois anos.
A sugestão levantou as orelhas de uns e torceu os narizes de outros. Não demorou a vim a frase esperada: “é porque é seu amigo”. A minha resposta também estava pronta: “o apresentador do programa também é meu amigo e reconhecido profissional, se me pedisse uma opinião sobre ele deveria levar em conta isso?”.
O argumento ganhou um tom de enfrentamento. Lembrei que nem sempre o justo é de direito. Muitos excelentes profissionais verão portas e janelas fechadas por essa tentativa de coibir que pais, tios, mães, tias, utilizem-se de sua influência política para manter a família empregada.
Não sou a favor do nepotismo, mesmo vendo injustiças na restrição de algumas contratações. Perde o poder público também. É injusto, mas é de direito.
Quanto a minha sugestão de entrevistado, conhecia o talento, o conhecimento do jornalista Roberto Boroni para falar de futebol e Copa do Mundo. Ele arrebentou!