quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os nossos governantes heróis

Entrevistei no ano passado pela TV Assembleia o professor da Ufal Paulo Peter. A minha pergunta principal: o que era necessário para revitalizar o rio São Francisco? A resposta: nada que está a nosso alcance. Fiquei espantado. Não esperava. "Como nada?"
O professor me explicou que nas seis primeiras décadas do século passado, o rio São Francisco sofreu com a construção de barragens para hidrelétricas. A vazão média do rio antigamente era de 7.000 m3/s. Com as represas e o tempo foi diminuindo até chegar ao que é hoje,2.700 m3/s na foz. Com a diminuição, as cidades começaram a se estender pela área em que o rio não atingia mais. Ou seja, para revitalizar o rio São Francisco seria necessário liberar as águas das represas e inundar inúmeros municípios ribeirinhos.
O represamento aconteceu também em outros rios. E aí que um 'tsunami' atingiu cidades pernambucanas e alagoanas após longas chuvas, na semana passada. A devastação foi total. Cenas de pós-guerra. Pausa para uma declaração do coordenador do Radar Meteorológico da Ufal, professor Ricardo Sarmento Tenório:

"Essa quantidade de chuva não seria capaz de provocar uma vazão tão grande".

As informações dão conta de que a barragem de Canhotinho (PE) se rompeu e isso tenha causado o grave problema. Agora, não dá para lembrar da minha entrevista com o professor Paulo Peter, ano passado???
Pois é, semanas atrás, perguntava-me também: e se fosse possível enviar mensageiros para o passado? Conseguiríamos evitar esta tragédia? Ou melhor, conseguiríamos evitar a morte de vários rios brasileiros, a extinção de várias espécies de peixes?
Acho que não. Em nome de um desenvolvimento, vemos hoje, mesmo com diversos estudos provando os impactos ambientais, a aprovação de Belo Monte, de estaleiros, de condomínios residenciais. E ainda assistimos os governos negarem a verdade, trabalharem com um assistencialismo, como se não houvesse culpa de gestões durante décadas de uso deste problema.
Concordo até com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dizer que existe um certo terrorismo em várias notícias sobre assuntos ambientais. No entanto, é um falsa ingenuidade acreditar que os danos de decisões do governo federal em nome do desenvolvimento não vão ser irreversíveis. Um certo diretor de um instituto de proteção ao meio ambiente uma vez me disse em 'off': "como querem construir um Estado sem destruir algo? Tem que se aprovar mesmo!" Adiantaria mandar alguém para conter a irresponsabilidade que provoca tragédias de 'pobres-diabos'? Claro que não. Afinal, na ajuda dada no pós-catástrofe surgem 'governantes heróis'. E estas vítimas vão se sentir agradecidas por tamanha solidariedade. Perfeitamente!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Os homens criaram este Haiti aqui

Hoje, abro uma exceção. Um artigo de Arnaldo Jabor, publicado nesta terça-feira no O Globo, que vou comentar amanhã prometo. Vamos a ele:

Os homens criaram este Haiti aqui

Não adianta analisar mais p... nenhuma no Brasil de hoje. Tudo voltará ao início como cobra mordendo o próprio rabo, tudo continuará sob a anestesia mas sem cirurgia, como disse uma vez Mário Henrique Simonsen. Tudo era previsível neste súbito Haiti que brotou no Nordeste, variando do deserto para o 'tsunami' de lama, das 'vidas secas' para o afogamento, sempre atingindo os mesmos pobres-diabos sem voz, sem rosto, sem destino, que vagam nas cidades desgraçadas que o subfeudalismo dos barões nordestinos cultiva.

A análise tradicional não serve; só resta oferecer-me como testemunha inútil deste crime secular sem autores visíveis. O autor não é Deus, não é a natureza: os homens teceram esta desgraça de agora, não por seus atos malignos apenas, mas por uma distribuição de causalidades inexplicáveis que cria o crime sem sujeito - uma difusa culpa que acaba inocentando a todos.

No entanto, a verdade brasileira aparece nestas tragédias visíveis - soterramentos, alagamentos, bebês morrendo em berçários de hospitais assaltados. Por outro lado, a verdade sempre esteve ali, silenciosa, dissimulada nos miseráveis vilarejos de Alagoas e Pernambuco, na paz trágica do nada, na mansidão da ignorância, no silêncio da miséria seca, aquela paz vazia que tranquiliza ladrões e demagogos, a paz da ignorância de vassalos toscos e obedientes.

Mas, de repente, jorrou a verdade com as águas de represas e açudes arrebentados. Tudo que não queríamos ver bate em nossos olhos grudados na TV, vendo o Maradona de terninho ou o Dunga com sua cara espessa e dura. A verdade aponta os responsáveis pela tragédia, que certamente vão esconder que 57% das verbas para prevenção de catástrofes desse tipo foram gastos na Bahia, para favorecer o candidato do governo para governador. Também não vão explicar por que só 14% das verbas preventivas (R$ 71 milhões apenas) foram destinados aos estados de Alagoas e Pernambuco.

Agora, com Lula e sua clone correndo para aparecer no teatro de lama, para impedir perda de votos, o governo vai gastar mais de R$ 2 bilhões para consertar o que era evitável (ah... e que bons negócios se farão...).

A catástrofe estava encravada nas fazendas-fantasmas, nos municípios controlados por barões, na indústria da seca -- não só a seca do solo, mas a seca mental -- onde a estupidez e a miséria são cultivadas para criar bons serviçais para a burguesia boçal. A catástrofe estava se armando enquanto soavam as doces camaradagens corruptas em halls de hotel, os almoços gordurosos, as cervejadas de bermudão, as gargalhadas, as "carteiradas" autoritárias, os subornos e as chaves de galão. As catástrofes estavam se armando durante os jantares domingueiros, na humilhação das esposas de Botox, no respeito cretino dos filhos psicopatas, na obediência dos peões, dos capatazes analfabetos. A catástrofe se armava no sarapatel de ideias que vão desde um leninismo tardio até este revival de um sindicalismo getulista a que assistimos.

Os indícios desse desastre se veem na recente frase irada que Lula lançou: "Os impostos no Brasil têm de ser altos, sim, do contrário não temos Estado." Esqueceu-se de dizer que os impostos que recolhe são gastos para pagar folha de milhares de pelegos empregados, nos desvios de verbas públicas, esqueceu de dizer que a catástrofe se armava nos últimos sete anos quando gastaram R$ 8 bilhões em propaganda oficial, sem contar os gastos com empresas estatais.

A catástrofe também se armou aos poucos com a frente unida da Utopia, que permite que todos os erros sejam cobertos por um manto de "fins justificados" -- a frente unida dos três tipos de radicais: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os loucos e os burros. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram, todos atacando o "capitalismo do mal", quando justamente esse mal (que também existe) é a única bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra.

A catástrofe se arma para futuras tragédias, com a má utilização dos bilhões de dólares que entram em nossa economia, canalizados para países emergentes, pois estão sendo sugados pelo Estado inchado e inchando.

A realidade (se é que isso ainda existe no país) é que a tragédia fixa, silenciosa, invisível se transformou numa tragédia bruta e retumbante. Só isso aconteceu no Nordeste.

E para nós restam o horror e a pena, porque os fatos estão muito além da piedade. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.

Restam-nos a impotência diante do fato consumado e um sentimento nobre, mas que chega sempre depois da desgraça: a solidariedade.

O que é solidariedade? Como sentir a dor dos outros? Sou solidário aqui ou apenas faço o meu artigo semanal? Por que me comovo? Será que me comovo mesmo, será que me imagino ali na lama, procurando pedaços de comida no lixo, e aí me purifico com minha indignação impotente? Como posso saber o que sente um homem-gabiru, faminto, analfabeto, que só é procurado pelos poderosos sacanas para ser laranja em roubalheiras para a cumbuca das oligarquias?

Como posso saber da alma de um desgraçado limpando um pedaço de pão no lodo para dar para o filho bebê, com seu sofrimento mudo, enquanto os culpados dizem "que horror!" nos prédios de luxo nas praias da Pajuçara e Boa Viagem ou se escondem nos cabides de emprego de Brasília? Como se sentem os homens sofridos que vemos chorando na TV, sob o som de gritos da Copa do Mundo, uivos de vuvuzelas e patetas pulando de alegria patriótica? Os diques e os açudes que se romperam são diques rompidos da mentira política sistemática. Então, pode ser que a História se mova um pouco e que a consciência de nosso absurdo aumente. Mas isso... só por um tempo... Depois, novas catástrofes voltarão a se armar...

domingo, 27 de junho de 2010

Um personagem diletante

Há algum tempo eu conheci um senhor bem raro. Eu fazia parte de um cineclube e fui apresentado a ele para conseguir filmes para exibir. O apartamento dele era repleto de dvds e livros, mas podia se perceber que ele era um colecionador bem recente. Todos os livros eram novos e a maioria dos dvds ainda estava no plástico.
No primeiro dia em que fui à casa dele, estava acompanhado por uma namorada. O senhor aparentava aproximadamente 60 anos, era magro, cabelos todos brancos e mostrava certa fragilidade. Convidou-nos logo a entrar, sentar, tomar um café e conversar. Encantava-me o acervo, por mais que me parecesse diletante. Um mago neofito.
Comecei a analisar aquele senhor, que tentava convencer-nos de que era um profundo conhecedor sobre cinema. Defendeu efusivamente pontos de vista controversos. Demonstrou ser excêntrico, talvez louco. Em meio a palavras, baixou as calças para ajeitar uma proteção do joelho. Ficamos espantados, embora pudesse ficar chateado com aquele ato.
No entanto, o que mais me deixou inquieto foi uma afirmativa dele: "eu fiz 32 mestrados". A minha respiração ficou forte. Perdi o senso de qualquer admiração. Senti-me insultado. Pedi imediatamente que ele me mostrasse uma das 32 teses. Ele disse que não tinha como achar, já que acabara de se mudar. Preferi não insistir.
Vi que aquele senhor parecia ter chegado a uma etapa da vida em que era necessário conquistar os outros se transformando num personagem, daqueles que ele provavelmente lera durante toda a vida. Era adolescente e achei que estava sendo subestimado em minha inteligência. O senhor continuou mostrando uns quadros, um tanto picantes até, e dizendo ser de sua autoria. Mais uma vez desconfiei.
Retornei à casa daquele senhor algumas vezes, para conversar e para pegar outros dvds. Sempre convidando a participar do cineclube (um grupo de estudantes da Ufal que promovia sessões gratuitas de cinema, com filmes clássicos). Minhas visitas pararam porque não me contive em contestar algumas afirmações de "um famoso escritor, que teria trabalhado com Cacá Diegues, sido produtor da TV Globo, TV Cultura, entre outros trabalhos". O fato era que eu já tinha pesquisado várias vezes na internet e nada. Nenhuma citação sobre o tal senhor.
Ele terminou se abusando de tantas perguntas e, por senti-lo irritado, parei de ir lá e nunca mais o vi. Anos mais tarde, vi na capa de um jornal local o senhor lançando três livretos, de poucas páginas mesmos, com as ilustrações que ele me mostrara. Até hoje tenho dúvidas sobre o que era verdade e o que era falso sobre o que ele me disse. Um sentimento de admiração retornou para aquele personagem quase quixotesco, se reiventando. Perfeitamente!

terça-feira, 22 de junho de 2010

É injusto, mas é de direito 2!

O novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, nomeou um casal para os cargos de confiança dele, desrespeitando a súmula vinculante do próprio STF sobre nepotismo. Em sua defesa, o presidente alegou que marido e mulher não são subordinados e trabalham honestamente e que por isso não tomaria uma interpretação radical sobre a súmula.
A alegação choca com os conceitos que nossa democracia tem desenvolvido. O nepotismo cruzado e o apadrinhamento não estão sob a análise da subordinação. Quando se proíbe a nomeação de parentes se tenta evitar algo danoso a nossa sociedade - o jeitinho para proteger ou beneficiar 'os próximos'. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ainda reforça que o Brasil tem quase 200 milhões de habitantes e que escolher pessoas competentes e que trabalhem honestamente não é uma tarefa difícil.
Como diz o psicoterapeuta Paulo Gaudêncio, o cerne da questão está em todos, principalmente, os chefes dos poderes e representantes do nosso sentido de pacto social, entenderem a necessidade de se aplicar de forma radical alguns conceitos. Assim como ter de contornar uma quadra para fazer um contorno, não entrar na contramão, não estacionar em fila dupla ou na vaga de deficiente. Não pode haver desculpas para transgredir algumas regras. Este jeitinho brasileiro sempre prejudica alguém, ao se tomar a velha vantagem. Ou ainda traz enormes prejuízos e descréditos a quem vive na comunidade.
A biologia tenta até explicar o nepotismo. Lembrando que o ato de beneficiar o próximo não deixa de ser uma técnica de autossobrevivência. Quando ajudo um amigo ou parente, eu asseguro que posso ser beneficiado mais tarde ou que pelo menos estas pessoas não venham a precisar de mim depois. Na democracia, o resultado é uma ineficiência do Estado ou uma sucessão de escândalos. Como até a biologia explica essa nossa necessidade de preservar os "nossos", o caminho é respeitar de modo radical mesmo, meretíssimo. Como disse em outra postagem. É injusto, mas é de direito. Perfeitamente!

sábado, 19 de junho de 2010

O espaço de quem é contra

Há alguns meses tenho lido com mais frequência os jornais impressos nacionais, em especial a Folha de São Paulo. Dá prazer ver não só o nível do conteúdo, a pluralidade, a qualidade estética, como também a permissibilidade com a crítica ao próprio material.
Não é justo comparar os três primeiros pontos com os periódicos alagoanos, já que nossa formação acadêmica e profissional é falha, não há capacitação nas empresas de comunicação locais e o nosso público é pouco exigente. Os poucos leitores diários não costumam gastar muito com informação. Os telespectadores comuns trocam a reportagem de denúncia pela 'chacina na Chã da Jaqueira' (aliás, para mim triplo homicídio ainda não é chacina. Fato reportado em 18/06/2010).
Pois bem, o que gostaria de comparar é o espaço reservado para a crítica do próprio material. Não o direito de resposta quase nunca dado e muitas vezes concedido sem as devidas proporções. Falo de dar o espaço para que o contraditório seja apresentado.
Recentemente, o deputado estadual Temóteo Correia reclamou de uma "manipulação na ordem das notícias dadas pelo jornal Gazeta de Alagoas". Embora eu considere imprópria a contestação do parlamentar, feita em discurso no plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas, acredito que deveria haver espaço para que ele escrevesse no jornal. Isso, uma vez que a Gazeta de Alagoas utilizou uma coluna para criticar a reclamação do deputado. Este ponto é geral a todos os jornais alagoanos.
Na Folha de São Paulo deste sábado, o coordenador do Comitê Paulista da Copa, Caio Luiz de Carvalho, recebeu um espaço na coluna de Opinião, página 2 do caderno principal, para falar sobre a construção do estádio Piritubão, em São Paulo. Na reportagem do dia anterior, a a matéria atribui a ele a declaração de que a escolha por esta obra seria um indício de "maracutaia". Com elegância, o coordenador utiliza a coluna para desmentir o jornal e dizer o que realmente pensa com as próprias palavras.
Não venho aqui discutir se o coordenador ou o deputado têm razão quanto aos temas. Quero pontuar que eles têm o direito de expressar as opiniões deles, mesmo que sejam contra o próprio veículo. Como leitores, temos que ler o que não queremos ler, ouvir o que não queremos. A decisão sobre ir até o fim do texto é nossa mesmo. Esta liberdade de expressão não pode ser ferida pelo editor-geral nem pelo 'dono do jornal'. A suposta negação deste direito foi utilizada pelo Supremo Tribunal de Justiça, há um ano, para retirar a necessária obrigação do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Defendo a utilização tanto página de opinião por quem quer que seja, como a presença de ombudsman, pelo menos semanalmente. Tal atitude engrandece os periódicos. Ouvir é um passo para melhorar. Perfeitamente!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Seria melhor "Estádio Didão"

Na foto, Mário Jorge Zagallo e Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Didão

Existe uma parábola japonesa que conta que um sábio recusou um presente, porque julgou que não era bom para ele. Ao desenrolar da história, chega-se à conclusão que por mais que pareça falta de educação ou arrogância, nós temos o direito de escolher sobre receber ou não um presente, ao analisar se isso nos fará bem.
Vejo a homenagem como um presente. E vejo que, em homenagens dadas seja lá onde for, é direito do presenteado aceitar ou não. Já aconteceu isso em diversos momentos. O poeta Carlos Drummond de Andrade torceu o nariz para o Nobel de Literatura e enviou uma carta avisando que não aceitaria a premiação. O filósofo francês Jean Paul Sartre também recusou. O governante do Vietnã do Norte deu às costas para o Nobel da Paz, por achar que não o merecia.
Enfim, receber um presente não é uma obrigação como nos ensina a nossa cultura. Faço este preâmbulo para contar o que é realmente arrogância e falta de educação, ou pelo menos desdém. Em 1970, Alagoas homenageou aquele que viria a ser o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Ao inaugurar um dos mais modernos estádios de futebol do país na época, pôs-lhe o nome de Rei Pelé. No jogo de inauguração, Santos X Combinado CSA/CRB, a presença do homenageado foi tão discreta e sem vontade, que até hoje existe o mito de que ele não veio. Porém, as imagens guardadas no Museu do Esporte do próprio estádio provam que Edson Arantes do Nascimento esteve lá.
Nunca houve qualquer identidade de Pelé com o Estado. A população ficou chateada com a falta de carinho do gênio do futebol. Um projeto do deputado estadual Temóteo Correia chegou a ser aprovado na Assembleia Legislativa de Alagoas alterando o nome para Rainha Marta. Foi vetado pelo governador, com razão, por considerar uma deselegância mudar o nome a essa altura.
E não é que o nosso grande camisa 10, Pelé, recebeu mais um convite para ser homenageado em Alagoas, na reinauguração do mesmo estádio, no próximo dia 27? Observando tamanho carinho, Pelé fez algumas exigências: a passagem por terras alagoanas tem que ser rápida, pediu um jatinho para buscá-lo e levá-lo, fora algumas recomendações bem ao estilo de uma celebridade. Não há como ter dúvida que Pelé sempre foi apaixonado pela terra.
Sinceramente, não sei quem foi mais equivocado. Os governantes alagoanos da época, como é característico a este povo, em não homenagear jogadores locais, geniais também como Dida ou Mário Jorge Lobo Zagallo. Ou o próprio Pelé, em aceitar um presente no qual não via valor.
Para mim, os alagoanos jamais reclamariam se o Trapichão fosse chamado de Estádio Edvaldo Alves de Santa Rosa, o "Didão".

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ranzinza com a minha profissão

A gente já foi mais respeitado. Nós, jornalistas, retratados romanticamente como homens de grande cultura, comprometidos com causas sociais e com um senso crítico edificante. No cinema, temos uma sensibilidade que encanta as melhores mulheres e conseguimos tudo o que queremos.
Hoje quando leio as propostas de uma chapa que concorre à direção da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), vejo como nosso prestígio ficou perdido em algum lugar. Não o prestígio fictício dos livros e do cinema, mas aquele de ser o "olho da sociedade". Foi nisso também em que pensei quando quis ser jornalista, creio.
O raciocínio é o seguinte: a sociedade corre em ritmo frenético e os territórios são enormes. Não dá para trabalhar e contemplar alguns direitos. Ficou impossível ir às praças definir os destinos da comunidade, conversar sobre o que está acontecendo. Logo foram criadas instituições como o parlamento e os demais órgãos públicos. Alguém tem que tomar decisões por nós. Na democracia isso acontece com homens escolhidos pela gente.
E como não também não é fácil acompanhar o que estes eleitos andam fazendo, eis que surgem os jornalistas. Os profissionais que estão lá reportando o que está acontecendo, cobrando o que foi prometido, esclarecendo quais são os direitos, abrindo horizontes para que os cidadãos possam tomar as decisões necessárias no dia-a-dia.
Hoje fomos reduzidos a meros técnicos. Nada mais que cozinheiros, com o perdão da classe que precisa também se especializar para trabalhar. A ideia de que não é necessário a formação acadêmica para o comunicador social é o resultado de anos, senão décadas de derrotas para a profissão.
O ofício entrou em crise após o regime militar, dizem. O que eu percebo, fiquem à vontade para contestar, é que deixamos de gostar de nós mesmos. Andamos em farrapos. As demais profissões reforçaram sindicatos, valorizaram a imagem. O corporativismo tão prejudicial à sociedade se transformou em pilar para muitos ofícios. No nosso caso, não. É o jornalista o primeiro a criticar o colega de trabalho. Vendemos nossa força de trabalho por tostões. Os reajustes não são respeitados. Vivemos de dissídios, de resultados que não são da luta, mas da passividade de uma categoria desmobilizada. Escutamos os patrões dizerem 'é assim ou tem quem queira'.
Na proposta da Fenaj, o combate aos 'frilas fixos', à transformação fraudulenta de jornalista assalariado em pessoa jurídica e a farta utilização de estagiários. Concordo com as propostas. Não sei se apoio à comissão ainda, mas pretendo estudar o assunto. Um ponto me deixa hesitante.
Uma jornalista amiga minha, sindicalista na década de 80, fala o seguinte: é preciso renovar os quadros. No sindicato, nas representações, é importante que estejam os 'diretores de redação, os editores de página e os novos líderes'. As comissões da Fenaj não trazem isso. Queremos ter chance no debate com os donos das empresas de comunicação. "Não há liderança nem ninguém com representatividade para sentar à mesa. Há algum tempo, a força do sindicato era creditada em parte a sindicalistas dirigentes de redação. Lembrem-se do saudoso Dênis Agra e de outros da década de 80".
Acho que esse é um passo para termos força na aprovação da PEC dos Jornalistas, que caminha lenta no Congresso Nacional. Como percebo que estou ficando ranzinza quanto a minha profissão, paro por aqui. Perfeitamente!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Para evitar constrangimentos

Desde a faculdade eu ganhei 30 quilos. Tinha aproximadamente 60 Kg - tão peso pena que só tinha dente. Para outros, eu lembrava um sinal de 'interrogação', de tão magro envergava. Talvez até pudesse na época empregar um chiste de um amigo meu em que ele dizia que com uma gravata borboleta eu me transformaria num crucifixo.
Hoje eu peso 90 quilos e devo ter crescido não mais que uns três centímetros (1,81m) - nesse período de oito anos. Só frisando: eu ganhei 50% do meu corpo nesse tempo. Fico me perguntando quais séries de fatores me trouxeram até aqui.
Dizem que você sabe quem está bem por alguns indícios ou descobre quem é cuidadoso consigo mesmo por outros traços. O humorista Jô Soares sempre olha pros sapatos dos homens. Bem engraxados eles mostram homens sofisticados, que cuidam de si. Um professor de teatro tempos atrás me falou que as unhas eram quem contavam histórias. Grossas denunciavam estresse, ansiedade. Se as unhas estiverem sujas ou sem estarem cortadas, então isso mostra como o sujeito é desleixados. A lista de indícios ainda traz a situação do carro, do quarto, do cabelo, da barba, dos dentes...
Eu corto minhas unhas, embora elas sejam grossas. Já meus sapatos, meu quarto, meus cabelos, minha barba não estão lá ruins, mas carecem de melhor atenção. Para mim o maior indício de que eu poderia estar melhor comigo mesmo é o peso. Penso que não fiz muito diferente do que fazia na minha adolescência. O fato é que com a idade, o corpo já não suporta tanta comida, bebida ou ainda capricho.
Quando eu comecei a engordar, destestei. Mas as meninas brincavam que eu até estava melhor, com umas 'carninhas para pegar'. Depois ficava encabulado com a supresa de amigos que não me viam há algum tempo.
Hoje, emagrecer faz parte de um plano de evitar constragimentos. Outro dia, numa reunião de trabalho, encontrei um colega de trabalho dos tempos de Secretaria Municipal de Comunicação. Sem perder muita oportunidade, ele sondou o terreno perguntando o óbvio: "Você engordou?". Eu confirmei dando toda a intimidade. Não contava que ele se empolgaria: "Pois é, engordasse pra cxxxxxx!!!"
Diante de tanta sensibilidade, preferi encerrar o papo. Ainda em casa no sofá, tive a impressão de que estava em outro corpo. Se esses são sinais de que não estou bem, preciso de terapia kkk. Ora, eu me sinto tão bem. Deixa para lá, vou comer a lasanha que está no forno. Perfeitamente!

domingo, 13 de junho de 2010

Nossos personagens

Madame Bovary é um romande escrito por Gustave Flaubert que resultou num escândalo ao ser publicado em 1857. Quando o livro foi lançado, houve na França um grande interesse pelo romance, pois levou seu autor a julgamento. Ele foi levado aos tribunais(onde utilizou a famosa frase "Emma Bovary c'est moi" (Emma Bovary sou eu) para se defender das acusações) acusado de ofensa à moral e à religião, num processo contra o autor e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, em que a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com alguns pequenos cortes.

Pra mim, o mais sensacional é pensar que Madame Bovary era realmente Flaubert. Assim como a infinidade de personagens que somos e que poderemos ser.Perfeitamente!

sábado, 12 de junho de 2010

O caçador de êider – trecho do livro “Viagem ao Centro da Terra”, de Julio Verne



Quando acordei, ouvi meu tio falando muito na sala ao lado.

Levantei-me imediatamente e apressei-me em ir ao seu encontro.

Falava em dinamarquês com um homem alto e vigorosamente esbelto.

O rapagão devia ter uma força incomum. Seus olhos pareceram-me inteligentes numa cabeça muito grande e um tanto ingênua. Eram de um azul sonhador. Seus longos cabelos, que passariam por ruivos na Inglaterra, caíam nos ombros atléticos. O indígena tinha movimentos flexíveis, mas mexia pouco os braços, como um homem que ignorasse ou desdenhasse a linguagem dos gestos. Tudo nele revelava um temperamento dos mais calmos, não-indolente, mas tranqüilo. Sentia-se que nada pedia a ninguém, que trabalhava para a sua comodidade e que, nesse mundo, sua filosofia não podia ser surpreendida ou perturbada.

Percebi as nuances daquele temperamento pela forma como o islandês ouvia a verborragia ardente de seu interlocutor. Estava de braços cruzados, imóvel, em meio às inúmeras gesticulações de meu tio; para negar sua cabeça virava da esquerda para a direita; para afirmar inclinava-se tão pouco que seus longos cabelos mal se mexiam. Uma economia de movimentos que beirava a avareza.

Se eu visse aquele homem, nunca adivinharia sua profissão de caçador; nunca devia amedrontar a caça, mas então, como a pegava?

Tudo se esclareceu quando o senhor Fridriksson me disse que o tranqüilo personagem não passava de um "caçador de êider", pássaro cuja penugem constitui a grande riqueza da ilha. De fato essa penugem chamava-se edredon, e não é preciso muito movimento para pegá-la.

Nos primeiros dias de verão, a fêmea do êider, espécie de pato bonito, vai construir seu ninho entre os rochedos dos fiordes, cuja costa é franjada. Construído o ninho, forra-o com plumas finas que arranca do ventre. Logo chega o caçador, ou melhor, o negociante, pega o ninho, e a fêmea faz tudo de novo. Isso continua até que sua penugem acabe.

Quando a fêmea está completamente depenada, cabe ao macho arrancar as suas penas. Como sua penugem é dura e grosseira, o caçador não se dá ao trabalho de roubar o leito da ninhada; o pássaro consegue assim concluir seu ninho. A fêmea põe os ovos, os passarinhos nascem, e no ano seguinte recomeça a coleta do edredon.

Ora, como o êider não escolhe para seu ninho as rochas escarpadas e sim as rochas fáceis e horizontais que vão se perder no mar, o caçador islandês conseguia exercer sua profissão sem grande agitação.

Não passava de um fazendeiro que não era obrigado a semear nem a ceifar, apenas a colher.

O personagem grave, fleumático e silencioso chamava-se Hans Bjelke; fora recomendado pelo senhor Fridriksson. Era nosso futuro guia. Suas maneiras contrastavam singularmente com as de meu tio.

Entenderam-se, entretanto, com facilidade. Nenhum dos dois se importava com o preço, o primeiro, pronto a aceitar o que lhe fosse oferecido, e o segundo, pronto a dar o que lhe pedissem.

Nunca uma barganha foi tão fácil.

Uma história que me pareceu fascinante, embora o personagem seja de tamanha crueldade e insensibilidade. Teria eu um pouco do caçador de êider? Acho que não. Sei que convivemos com alguns caçadores de êider, diariamente. Perfeitamente!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A busca pelo nome

Na semana passada, veio uma vontade de escrever um blog. Este aqui. A tentativa também era de sair de um piloto automático em que vivo entrando na minha profissão. Aquele lance do aquário de que falei antes [primeira postagem]. Mas aí veio uma questão: qual o nome do blog?
Não pensem que é fácil. Se para qualquer pessoa 'bolar' um nome legal é importante, para um jornalista isto vira fundamental. Todos esperam uma 'sacada' fenomenal. Eu buscava o nome já imaginando as expressões: "Que legal... pxxxx do cxxxxxx!!!! Ficou massa!!! Nunca tinha pensado"!!! Como diria o prefeito Cícero Almeida... só expectativas humildes diante de "soberba criatividade que eu tenho" ops!
Lembrei de amigos meus com sacadas semelhantes: Wladymir Lima com a coluna "Diverso e Prosa", do Cadu Epifanio com o blog "Caminhos de Minutos", com o expressivo "Texto Final" do grande Fábio Costa, do "Dose Dupla" de Eulália Lima.... e daí por diante.
Durante o banho, uma ideia que no momento pareceu legal: "perfeitamente. blogspot.com". A expressão 'perfeitamente' é muito pouco usada e até uma muleta para algo 'perfeito'. Mas como lembranças são tudo, recordei da primeira aula da faculdade de jornalismo. Ainda na chamada, eu me distraí, o que não é difícil quando o nome é Wendel, ou seja geralmente o último. Fui despertado com o pronunciamento do meu nome e, sem querer, não saiu a palavra "presente". Saiu "perfeitamente". A sala veio abaixo com estranheza, parecia que eu estava fazendo graça.
Ficou guardado e 'perfeitamente' se tornou um bordão, depois virou um bordão perdido nos tempos de faculdade.
Ia dar uma reforçada nos textos encaixando a expressão sempre que possível, coisa assim. Tratei de criar o blog 'perfeitamente.blogspot.com', que não estava disponível. Ele já existe, pertence a uma garota de 22 anos, moradora de Jundiaí (SP), que sequer postou uma letra.
Pedi ajuda a amigos e a minha namorada. De Lídia veio o "etnemiefrep", o perfeitamente ao contrário. De Anamaria Santiago, produtora da Tv, veio o "imperfeitamente", mas novamente era o contrário.
Um pouco triste, preferi lembrar do primeiro e único programa de rádio que fiz, ainda na faculdade. O nome que escolhi me parecia fantástico: "A Coisa do Coiso". Eu tinha acabado de ler um livro antigo que trazia a palavra "coiso": vocábulo perdido na nossa língua, que significa pessoa não conhecida".
O nome "A Coisa do Coiso" foi aceito de imediato por meus companheiros de rádio universitária. Isso até a hora em que eles descobriram que não se tratava de um programa de humor. E sim de um quadro informativo sobre Direito do Consumidor. Não, eu não tinha fumado maconha e tinha tomado meu remédio naquele dia. Claro que a coisa do coiso não foi pra frente.
Retornando à busca pelo nome, ainda ouvi sugestões de meu amigo Gilson Monteiro com "Achando Agulha no Palhares". Decidi não ver outras possibilidade de trocadilhos com meu sobrenome, embora será o título de um post futuro.
Coloquei http://wendelpalhares.blogspot.com para espanto de todos. "Como assim? É seu nome!!!" Foi absurdo o que eu fiz, quase um crime botar o nome do meu blog de Wendel Palhares, mas vou assumir a culpa kkkk. Imagino meu nome como uma marca e vai ficar fácil lembrar o endereço. Afinal, a busca por um nome não é uma tarefa fácil para um jornalista.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Era apenas um menino


Era um menino, ainda sem rosto

Sofria de um grave descolamento

de alma e corpo,

O amor de Anabella era espelho

Alento e desalento da sombra desconhecida

Pecado que nem mesmo ele podia vê-lo

Mas era só um menino, de imagem retorcida

Talvez menos que menino

Sobre as confusas linhas da vida

O ondear de seus sonhos fugindo

Para a valsa dos famintos

De amor, de atenção, o opaco reluzindo

Sabe-se que ele em vários dias brilhou

Girou, errou, repetiu

E depois a si mesmo apagou

O que se esperava dele, numa roda gigante

O vaguear de um louco

Mas há de se dizer que era apenas um menino grande

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A culpa por Gabriela

Eu não me lembro como escolhi o Jornalismo. Recordo que quando meu pai quis me convencer a fazer Direito, eu já tinha decidido. Talvez por ter uma inquietação e adorava 'criticar'. A ponto de - isso eu descobri bem mais tarde - de uma orientadora educacional do colégio em que estudei o ensino médio ter colocado na minha ficha a descrição "cri-cri".
O fato é que a paixão ao jornalismo foi imediata, assim que pisei na Universidade Federal de Alagoas. Paixão cega, daquelas que você fecha os olhos para os problemas e questões negativas do curso de Comunicação Social - e olhe que são muitas e bastante evidentes.
Essa paixão era gritada ao vento. Tanto que uma amiga minha, chamada Gabriela, terminou por se convencer a prestar vestibular para o curso. Sim, eu fui o culpado disto, como diria Waldemir Rodrigues - jornalista amigo meu, que diz que quem põe alguém no ofício torna-se culpado por isso.
Pois Gabriela enveredou a fazer as provas para o curso de Comunicação Social da Ufal. Nesse período eu já estava nos quadros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) de lá. Como de costume, a lista dos aprovados do vestibular chega primeiro ao DCE, que é responsável pela festa e pela divulgação dos nomes em trio elétrico, numa festa na Praça Sinimbu.
No dia da festa, já com a lista na mão, avisto lá embaixo, Gabriela. Em meio ao alto som, escuto-a pedir para que eu conferisse se o nome dela constava na lista. Imediatemente busquei na lista e estava lá: Gabriela Luzia Rodrigues. Abri um largo sorriso e acenei positivamente.
Gabriela era uma felicidade só. Com as amigas pulava de alegria entre os tensos candidatos que aguardavam a leitura. Ao começar a ler os aprovados de Jornalismo, percebo que Gabriela não pulava mais ao sair o nome Gabriela Luzia Rodrigues. Não era ela. Se o meu chão caiu, imagine o dela.
Hoje, adianto sem demoras que Gabriela Luzia Rodrigues - a realmente aprovada naquele momento - tornou-se minha amiga e companheira de redação na Tribuna Independente e cobre política na Assembleia Legislativa, onde atualmente exerço minha profissão.
Quanto a Gabriela Moreira, ela me perdoou. Ela passou no ano seguinte no curso. Infelizmente, não fui eu quem leu sua aprovação no vestibular. É uma das amigas mais queridas por mim. Gabi é estagiária na Gazetaweb.com. Perfeitamente!

terça-feira, 8 de junho de 2010

É injusto, mas é de direito

O governo federal acaba de proibir o nepotismo na administração direta e indireta, inclusive o cruzado – aquele em que um gestor nomeia um familiar de outro gestor. A pergunta óbvia é: já não era proibido?

O problema do nepotismo não está no fato de se empregar um parente. A competência técnica desse familiar pode ser superior a de qualquer outro que venha a ocupar um cargo público. A tentativa é de coibir uma prática de “cabide de empregos”, que normalmente resulta em baixa ou nenhuma produtividade, ou ainda de portas abertas para a corrupção.

Lembro da frase que ouvi poucos dias após chegar à TV Assembleia. Quem te indicou? Atirou a pergunta um amigo meu. Respondi que o diretor de comunicação, Joaldo Cavalcante. A réplica veio com a afirmativa de que todos chegaram ali por alguma indicação: característica muito comum em nosso Estado, em nosso país.

Mais uma vez, o problema não se encontra na indicação, mas na falta de mérito nessa indicação. Na semana passada, fui perguntado quem seria um bom cronista desportivo para dar uma entrevista ao programa Ponto de Vista, na mesma TV Assembleia. Minha indicação foi imediata para o jornalista Roberto Boroni, mesmo sabendo que ele não trabalhava mais com esporte há uns dois anos.

A sugestão levantou as orelhas de uns e torceu os narizes de outros. Não demorou a vim a frase esperada: “é porque é seu amigo”. A minha resposta também estava pronta: “o apresentador do programa também é meu amigo e reconhecido profissional, se me pedisse uma opinião sobre ele deveria levar em conta isso?”.

O argumento ganhou um tom de enfrentamento. Lembrei que nem sempre o justo é de direito. Muitos excelentes profissionais verão portas e janelas fechadas por essa tentativa de coibir que pais, tios, mães, tias, utilizem-se de sua influência política para manter a família empregada.

Não sou a favor do nepotismo, mesmo vendo injustiças na restrição de algumas contratações. Perde o poder público também. É injusto, mas é de direito.

Quanto a minha sugestão de entrevistado, conhecia o talento, o conhecimento do jornalista Roberto Boroni para falar de futebol e Copa do Mundo. Ele arrebentou!

Um dia ou 24 horas

Um dia tem 24 horas, uma hora tem 60 minutos e um minuto tem 60 segundos. Creio que não haja nenhuma polêmica sobre isto. O estranho foi descobrir que existe tanto no Legislativo quanto no Judiciário a discussão sobre os prazos de um dia ou 24 horas. Semanas atrás, o deputado estadual Isnaldo Bulhões Júnior (PDT/AL) pediu que uma proposta de emenda à constituição não fosse votada naquela sessão por não ter sido obedecido o prazo de 24 horas, previsto no regimento interno da casa. Na verdade, faltavam 10 ou 15 minutos para se atingir o período. O parlamentar reiterou o pedido em vão, diante de uma Mesa Diretora do Legislativo que preferiu entender que o prazo de 24 horas se refere ao dia seguinte. Bem, manobras políticas à parte, em sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na quarta-feira passada, os ministros entraram nesse debate. Para a ministra Carmem Lúcia, o preciosismo com as horas e os minutos tem criado rixas na Justiça em todo o Brasil. Um despacho dado às 10:14, com prazo de 24 horas, não pode ser obedecido às 10:15 do dia seguinte. Para os ministros, o prazo não deve ser mais de 24 horas e sim de um dia. Afinal, na legislação, um dia nem sempre tem 24 horas. Perfeitamente!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"... a saudade do que queríamos no jornalismo"

Eu sou jornalista. Como diz minha amiga Cláudia Galvão, um ser bípede que é pago para se intrometer na vida dos outros. Cheio de opiniões e ideias, vivo a crise de dividi-las ou guardá-las para mim mesmo. E nada mais próximo disso do que justamente a internet. Criar um blog, mais um diante de tantas criações e desistências imediatas, parece terapêutico. No entanto, este se trata de uma inquietação pessoal em transmitir alguns pensamentos - profissionais inclusive -, mesmos que eu negue que ele continuarão comigo mesmo, diante de uma rede com tantas informações. Afinal, "quem lê tanta notícia?"
Para mim, a grande rede mantém um isolamento gigantesco justamente com o que ela tem de melhor: o acesso. Muita informação! Neste blog, minha vontade é contar tudo, mas a angústia me bate em poucos segundos: ser jornalista em Alagoas é muitas vezes calar. E quem poderá me dizer que não é assim em todo o mundo?
Recentemente, vi o documentário sobre a mudança gráfica e de conteúdo da Folha de São Paulo. A dica partiu do Twitter de Chicão, um colega de faculdade, hoje mais ligado à publicidade. Ele indicou para "a saudade do que queríamos quando iniciamos a faculdade de jornalismo". Ainda na sexta-feira passada, assisti ao filme "Incendiário" em que um jornalista usa de vários métodos para desvendar uma notícia (um alerta: embora seja um bom filme, o enredo não traz nada referente ao jornalismo, foi só um recorte).
Desde que entrei no jornalismo, e só o fiz neste Estado, creio que me senti assim uma vez: quando editei uma revista de educação. É engraçado, porque a revista era temática e cheia de restrições quanto à linha editorial, sem poder criticar o poder público nem a categoria dos professores, mas me deu um prazer danado escolher que reportagem fazer.
Vivi com um gosto amargo meus últimos sete anos, em que pude escrever. Sei que é absurdo, mas tenho um certo cansaço precoce quanto à profissão. Em uma postagem futura, vou falar como me sinto em Maceió. Eu cheguei à conclusão de que o "paraíso das águas" mais me parece um aquário. Se você crescer um pouco, o corpo fica limitado pelo espaço e suas barbatanas logo começam a atrofiar.
Esse clima provinciano interfere diretamente na minha profissão. Ainda estagiário senti o gosto da realidade do meu 'ofício tão importante para a sociedade'. Ao descobrir uma fraude num órgão público, fui dispensado sem ser ouvido. A alegação é que eu teria feito chantagem. Claro que não a fiz, mas fui aconselhado por colegas mais experientes a deixar o assunto de lado e seguir a vida, para não 'fechar portas'.
Não me sinto um grande jornalista. Penso que aceitei até tudo de forma muito fácil. Ando no ritmo do maceioense: a 30 Km/h - aquela velocidade de quem está de férias, na praia. Um espaço de tempo que confunde quem vai atravessar a pista: se deve correr ou esperar o carro passar. A corrida que só atrapalha.
Por isso, abri este blog. Para falar o que eu quiser quando der vontade. Mas não espere muito de mim, eu ainda vivo em Alagoas e preciso que não me fechem portas. Perfeitamente!