sábado, 19 de junho de 2010

O espaço de quem é contra

Há alguns meses tenho lido com mais frequência os jornais impressos nacionais, em especial a Folha de São Paulo. Dá prazer ver não só o nível do conteúdo, a pluralidade, a qualidade estética, como também a permissibilidade com a crítica ao próprio material.
Não é justo comparar os três primeiros pontos com os periódicos alagoanos, já que nossa formação acadêmica e profissional é falha, não há capacitação nas empresas de comunicação locais e o nosso público é pouco exigente. Os poucos leitores diários não costumam gastar muito com informação. Os telespectadores comuns trocam a reportagem de denúncia pela 'chacina na Chã da Jaqueira' (aliás, para mim triplo homicídio ainda não é chacina. Fato reportado em 18/06/2010).
Pois bem, o que gostaria de comparar é o espaço reservado para a crítica do próprio material. Não o direito de resposta quase nunca dado e muitas vezes concedido sem as devidas proporções. Falo de dar o espaço para que o contraditório seja apresentado.
Recentemente, o deputado estadual Temóteo Correia reclamou de uma "manipulação na ordem das notícias dadas pelo jornal Gazeta de Alagoas". Embora eu considere imprópria a contestação do parlamentar, feita em discurso no plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas, acredito que deveria haver espaço para que ele escrevesse no jornal. Isso, uma vez que a Gazeta de Alagoas utilizou uma coluna para criticar a reclamação do deputado. Este ponto é geral a todos os jornais alagoanos.
Na Folha de São Paulo deste sábado, o coordenador do Comitê Paulista da Copa, Caio Luiz de Carvalho, recebeu um espaço na coluna de Opinião, página 2 do caderno principal, para falar sobre a construção do estádio Piritubão, em São Paulo. Na reportagem do dia anterior, a a matéria atribui a ele a declaração de que a escolha por esta obra seria um indício de "maracutaia". Com elegância, o coordenador utiliza a coluna para desmentir o jornal e dizer o que realmente pensa com as próprias palavras.
Não venho aqui discutir se o coordenador ou o deputado têm razão quanto aos temas. Quero pontuar que eles têm o direito de expressar as opiniões deles, mesmo que sejam contra o próprio veículo. Como leitores, temos que ler o que não queremos ler, ouvir o que não queremos. A decisão sobre ir até o fim do texto é nossa mesmo. Esta liberdade de expressão não pode ser ferida pelo editor-geral nem pelo 'dono do jornal'. A suposta negação deste direito foi utilizada pelo Supremo Tribunal de Justiça, há um ano, para retirar a necessária obrigação do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Defendo a utilização tanto página de opinião por quem quer que seja, como a presença de ombudsman, pelo menos semanalmente. Tal atitude engrandece os periódicos. Ouvir é um passo para melhorar. Perfeitamente!

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