quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os nossos governantes heróis

Entrevistei no ano passado pela TV Assembleia o professor da Ufal Paulo Peter. A minha pergunta principal: o que era necessário para revitalizar o rio São Francisco? A resposta: nada que está a nosso alcance. Fiquei espantado. Não esperava. "Como nada?"
O professor me explicou que nas seis primeiras décadas do século passado, o rio São Francisco sofreu com a construção de barragens para hidrelétricas. A vazão média do rio antigamente era de 7.000 m3/s. Com as represas e o tempo foi diminuindo até chegar ao que é hoje,2.700 m3/s na foz. Com a diminuição, as cidades começaram a se estender pela área em que o rio não atingia mais. Ou seja, para revitalizar o rio São Francisco seria necessário liberar as águas das represas e inundar inúmeros municípios ribeirinhos.
O represamento aconteceu também em outros rios. E aí que um 'tsunami' atingiu cidades pernambucanas e alagoanas após longas chuvas, na semana passada. A devastação foi total. Cenas de pós-guerra. Pausa para uma declaração do coordenador do Radar Meteorológico da Ufal, professor Ricardo Sarmento Tenório:

"Essa quantidade de chuva não seria capaz de provocar uma vazão tão grande".

As informações dão conta de que a barragem de Canhotinho (PE) se rompeu e isso tenha causado o grave problema. Agora, não dá para lembrar da minha entrevista com o professor Paulo Peter, ano passado???
Pois é, semanas atrás, perguntava-me também: e se fosse possível enviar mensageiros para o passado? Conseguiríamos evitar esta tragédia? Ou melhor, conseguiríamos evitar a morte de vários rios brasileiros, a extinção de várias espécies de peixes?
Acho que não. Em nome de um desenvolvimento, vemos hoje, mesmo com diversos estudos provando os impactos ambientais, a aprovação de Belo Monte, de estaleiros, de condomínios residenciais. E ainda assistimos os governos negarem a verdade, trabalharem com um assistencialismo, como se não houvesse culpa de gestões durante décadas de uso deste problema.
Concordo até com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dizer que existe um certo terrorismo em várias notícias sobre assuntos ambientais. No entanto, é um falsa ingenuidade acreditar que os danos de decisões do governo federal em nome do desenvolvimento não vão ser irreversíveis. Um certo diretor de um instituto de proteção ao meio ambiente uma vez me disse em 'off': "como querem construir um Estado sem destruir algo? Tem que se aprovar mesmo!" Adiantaria mandar alguém para conter a irresponsabilidade que provoca tragédias de 'pobres-diabos'? Claro que não. Afinal, na ajuda dada no pós-catástrofe surgem 'governantes heróis'. E estas vítimas vão se sentir agradecidas por tamanha solidariedade. Perfeitamente!

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