terça-feira, 15 de junho de 2010

Ranzinza com a minha profissão

A gente já foi mais respeitado. Nós, jornalistas, retratados romanticamente como homens de grande cultura, comprometidos com causas sociais e com um senso crítico edificante. No cinema, temos uma sensibilidade que encanta as melhores mulheres e conseguimos tudo o que queremos.
Hoje quando leio as propostas de uma chapa que concorre à direção da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), vejo como nosso prestígio ficou perdido em algum lugar. Não o prestígio fictício dos livros e do cinema, mas aquele de ser o "olho da sociedade". Foi nisso também em que pensei quando quis ser jornalista, creio.
O raciocínio é o seguinte: a sociedade corre em ritmo frenético e os territórios são enormes. Não dá para trabalhar e contemplar alguns direitos. Ficou impossível ir às praças definir os destinos da comunidade, conversar sobre o que está acontecendo. Logo foram criadas instituições como o parlamento e os demais órgãos públicos. Alguém tem que tomar decisões por nós. Na democracia isso acontece com homens escolhidos pela gente.
E como não também não é fácil acompanhar o que estes eleitos andam fazendo, eis que surgem os jornalistas. Os profissionais que estão lá reportando o que está acontecendo, cobrando o que foi prometido, esclarecendo quais são os direitos, abrindo horizontes para que os cidadãos possam tomar as decisões necessárias no dia-a-dia.
Hoje fomos reduzidos a meros técnicos. Nada mais que cozinheiros, com o perdão da classe que precisa também se especializar para trabalhar. A ideia de que não é necessário a formação acadêmica para o comunicador social é o resultado de anos, senão décadas de derrotas para a profissão.
O ofício entrou em crise após o regime militar, dizem. O que eu percebo, fiquem à vontade para contestar, é que deixamos de gostar de nós mesmos. Andamos em farrapos. As demais profissões reforçaram sindicatos, valorizaram a imagem. O corporativismo tão prejudicial à sociedade se transformou em pilar para muitos ofícios. No nosso caso, não. É o jornalista o primeiro a criticar o colega de trabalho. Vendemos nossa força de trabalho por tostões. Os reajustes não são respeitados. Vivemos de dissídios, de resultados que não são da luta, mas da passividade de uma categoria desmobilizada. Escutamos os patrões dizerem 'é assim ou tem quem queira'.
Na proposta da Fenaj, o combate aos 'frilas fixos', à transformação fraudulenta de jornalista assalariado em pessoa jurídica e a farta utilização de estagiários. Concordo com as propostas. Não sei se apoio à comissão ainda, mas pretendo estudar o assunto. Um ponto me deixa hesitante.
Uma jornalista amiga minha, sindicalista na década de 80, fala o seguinte: é preciso renovar os quadros. No sindicato, nas representações, é importante que estejam os 'diretores de redação, os editores de página e os novos líderes'. As comissões da Fenaj não trazem isso. Queremos ter chance no debate com os donos das empresas de comunicação. "Não há liderança nem ninguém com representatividade para sentar à mesa. Há algum tempo, a força do sindicato era creditada em parte a sindicalistas dirigentes de redação. Lembrem-se do saudoso Dênis Agra e de outros da década de 80".
Acho que esse é um passo para termos força na aprovação da PEC dos Jornalistas, que caminha lenta no Congresso Nacional. Como percebo que estou ficando ranzinza quanto a minha profissão, paro por aqui. Perfeitamente!

Um comentário:

  1. Oi, Wendel. Parabéns pelo blog e pelas temáticas abordadas. Concordo contigo em relação a nossa profissão. Temos mais é que ser ranzinzas mesmo, pelas razões que você abordou e muitas outras. Abração!

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