segunda-feira, 23 de maio de 2011

As crises e a grama do vizinho

Ultimamente, a pergunta aparece de forma constante entre os alagoanos: qual a diferença entre a crise de 1997 e esta de 2011 no governo de Alagoas?
Eu até incluiria uma crise em 2007, com greves de três, quatro meses. Servidores, classificados em categorias, estão insatisfeitos com a política salarial do Executivo.
Nas duas últimas, o cenário de greve, a dificuldade de diálogo e reajustes abaixo do que é aplicado nacionalmente. Há 14 anos, nem salários chegavam aos servidores.
Com um histórico tão terrível em pouco mais de uma década e com a pública intenção de uma política de reajuste automático para servidores que há muitos anos nem aumento tiveram, é fácil perguntar o por quê da insatisfação.
Em "O Espírito da Igualdade", os ingleses Richard Wilkinson e Kate Pickett afirmam que são as desigualdades sociais, e não a pobreza em si, que mais contribuem para os problemas sociais. Em paralelo poderíamos dizer que não é o reajuste insatisfatório que tem trazido a crise ao governo Teotonio Vilela Filho, mas as disparidades nas políticas aplicadas na esfera do Executivo e também nos dois outros poderes.
O que acende a fogueira da crise, mais até do que um uso político de algumas categorias de servidores, é o reajuste aplicado aos salários dos deputados, dos secretários estaduais, dos dirigentes diretos.
Também é um sinal dessa desigualdade quando uma lei delegada é solicitada para aumentar os cargos de comissão e se evita a realização de concurso público. Afloram-se as indignações quando esta lei intensifica a distância entre funcionários comissionados e os efetivos, quando as oportunidades são reduzidas a grupos internos, que geralmente participam de campanhas eleitorais.
Em comparação com subsídios de outros estados, os policiais, os professores, os bombeiros não ganham de forma tão desigual. No entanto, quando os secretários dobram os vencimentos, quando os parlamentares também o fazem, a população 'espera' que a mesma justiça social seja aplicada aos agentes públicos efetivos.
Não acho injusto um deputado estadual ganhar R$ 20 mil nem um secretário ganhar R$ 15 mil. Ao contrário, os salários deveriam variar por este patamar. O custo de vida, a responsabilidade e, principalmente, a realidade de salários de profissionais competentes no mercado sugerem que a contratação desses servidores seja bem remunerada.
O que constrange é oferecer 5,9% em duas parcelas para todos os outros, multiplicando a desigualdade social e até humilhando outros profissionais que se prepararam tanto ou mais do que dirigentes escolhidos por amizade ou acordos. Um professor ganhar pouco mais de R$ 1 mil por mês é onde mora o absurdo, assim como técnicos "carregadores de piano" receberem pouco mais de um salário mínimo.
Retornando aos ingleses Wilkinson e Pickett, o mal-estar aparece quando se olha para grama do vizinho, quando se vê o custo de vida crescer mais rápido do que os próprios salários. O compromisso por melhores subsídios tem que ser evidenciado em políticas claras, inclusive na de comunicação. Classificar a posição de servidores como de 'coitadinhos', gargalhar em momentos sérios, pagar altos valores em consultoria, mostrar ineficiência em ações emergenciais...tudo isso só inflama as revoltas.
A oposição já mostrou em números que o Orçamento foi forçado para baixo exatamente para impedir um reajuste maior. Quando a arrecadação nacional cresce 18% em um só mês, o Estado prevê queda na receita. Essa filosofia não contribui para o bem-estar da sociedade.
Então, quando se faz a pergunta de qual o tamanho da distância das crises de 1997 e de 2011, eu acredito que está na sensação de engano. Em 1997, o que falava alto era a fome. Eram as dívidas. Todos lutavam pela sobrevivência. Em 14 anos, a política estadual é mais responsável, mas não demonstra 'esforço' em dar condições menos desiguais aos servidores.
A solução está em discutir um plano de reajustes mais generosos ao longo dos próximos quatro anos, no compromisso de substituir gradativamente a maioria dos cargos de comissão por concursados, de ocupar cada vez os cargos comissionados com os próprios efetivos - ou seja, de acabar com a política de privilegiados, já que a 'grama mais verde do vizinho incomoda muita gente'.

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